«Os editores eram um par de pitorescos cidadãos chamados Barrido e Escobillas. Barrido, baixo, rechonchudo e sempre com um sorriso untuoso e sibilino nos lábios, era o cérebro da operação. Vinha da indústria salsicheira e, embora não tivesse lido mais do que três livros na vida, incluindo o catecismo e a lista telefónica, possuía uma audácia proverbial para cozinhar os livros de contabilidade, que adulterava para os seus investidores com alardes de ficção que já teriam querido rivalizar com os dos autores que a casa, tal como Vidal havia prenunciado, burlava, explorava e, em última análise, deixava cair na valeta quando os ventos eram contrários, o que mais cedo ou mais tarde acabava sempre por acontecer.
Escobillas desempenhava um papel complementar. Alto, magro e de aspecto vagamente ameaçador, formara-se no negócio dos serviços fúnebres e sob a reles água-de-colónia com a qual lavava as suas partes pudendas deixava atrás de si um leve fedor a formol que punha toda a gente com os cabelos em pé. A sua função era basicamente a de capataz sinistro, de chicote na mão e disposto a fazer o trabalho sujo para o qual Barrido, devido ao seu temperamento mais risonho e à sua estrutura não tão atlética, apresentava menos aptidão. O ménage-à-trois completava-se com a sua secretária de direcção, Herminia, que os seguia para todo o lado como um cão fiel e a quem todos chamavam Veneno porque, apesar do seu aspecto de mosquinha morta, era tão de fiar como uma serpente cascavel no cio.»
Carlos Ruiz Zafón in O Jogo do Anjo, publicado em Portugal pela LEYA.
p.s. Não se garante que qualquer semelhança com a realidade seja mera coincidência!
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